Esse é Jamie Dimon, atual CEO e Chairman do J.P. Morgan, o maior banco de investimentos do mundo, posto que alcançou cerca de 120 anos atrás, quando era comandado por John Pierpont Morgan.
Se você acha que o banco foi fundado pelo homônimo, assim como eu achava, não foi bem assim, como descobri lendo o livro “House of Morgan”, de Ron Chernow, que apesar do viés esquerdista, parece ser uma boa leitura da história do banco.
Semana passada terminei a primeira parte do livro, que Chernow chamou de Era Baronial, que é uns 20% do livro, quando ele conta os primórdios, até a consolidação do que conhecemos como J.P. Morgan & Co.. Fiz um bom resumo, boa leitura!
George Peabody (1795 a 1869)
A Casa Morgan não começou com um Morgan, mas com esse comerciante que atravessou o Atlântico para abrir uma casa mercantil na 31 Moorgate, Londres, em 1837. Nessa época Londres era “o Sol no sistema solar financeiro”.
Barings e Rothschilds eram como reis do dinheiro, monarcas do mundo inteiro iam a Londres como pedintes num mundo com restrição de capital. Nas primeiras décadas Peabody era basicamente um distribuidor de títulos dos estados norte americanos.
Nessa época outros banqueiros tentavam fazer o mesmo, mas poucos sobreviviam aos altos e baixos dos mercados, que eram bem mais frequentes em um mundo em que a quantidade de moeda era limitada, mas Peabody sobreviveu.
Ele ficou conhecido por participar ativamente das cobranças, por manter muito caixa e por escolher muito bem os parceiros de negócios, mas também por ser muito canhenga, como fica claro nessa passagem do livro:
Junius Morgan, que se tornou sócio de Peabody em 1854, contou mais tarde como o encontrou certa manhã na casa de contabilidade parecendo doente e reumático. O avarento Peabody não tinha carruagem, mas ia para o trabalho em carroça pública. "Sr. Peabody, com esse resfriado, você não deveria ficar aqui", disse Morgan. Pegando chapéu e guarda-chuva, Peabody concordou em ir para casa. Vinte minutos depois, a caminho do Royal Exchange, Morgan encontrou Peabody parado na chuva. "Sr. Peabody, pensei que você estava indo para casa", disse o homem mais jovem. "Bem, estou, Morgan", respondeu Peabody, "mas só passou um transporte de dois centavos até agora e estou esperando por um de um centavo". A essa altura, a conta bancária de Peabody estava abarrotada com mais de US$ 1 milhão.
Em 1854, quando atraiu Junius para a socidade, ele já era o principal banqueiro norte americano em Londres, o que permitiu que os dois passassem 10 anos surfando a avalanche de dinheiro que fluiu para construir ferrovias na América.
Quando Peabody faleceu, ele não cumpriu a promessa inicial de manter seu nome e seu capital na sociedade, mas nessa época Junius já tocava o dia a dia da empresa a 12 anos, então conseguiu seguir com capital próprio e mudando o nome.
Junius Spencer Morgan (1813 a 1890)
A George Peabody and Company virou J.S. Morgan and Company em 1864, então a maior instituição financeira norte americana sediada em Londres, nascia ali o gigante que conhecemos hoje, como fica claro nesse trecho do livro:
“Se Emerson estava certo de que "uma instituição é a sombra alongada de um homem", então o lançador de sombras da Casa de Morgan foi Junius Spencer Morgan. Inculcados em seu filho, Pierpont, seus preceitos codificaram a filosofia Morgan por um século. Ele era um pai exigente, preocupado com o filho e o banco, uma figura tão maciça e obstinada, que somente seu filho, retrospectivamente, poderia reduzi-lo a meramente o "pai de J. Pierpont Morgan". Como disse um jornalista, "os Morgans sempre acreditaram na monarquia absoluta. Enquanto Junius Morgan viveu, ele governou a família e os negócios - seu súdito e seus sócios". Até a morte de Junius, em 1890, sua sombra maciça dominou a vida de seu filho”.
Peabody não convidou Junius Morgan para sócio à tôa, ele já tinha capital familiar, herdado do pai comerciante em Connecticut, que comprou para ele uma participação em sociedade comercial em Boston, onde ele casou com outra herdeira comercial.
Ele era o homem certo, no lugar certo e no tempo certo, tanto para intermediar os investimentos londrinos para as ferrovias norte americanas (os judeus lideraram os investimentos alemães), quanto para rivalizar com Barings e Hothschilds.
Enquanto mantia seu filho Pierpont fazendo o relacionamento em NY para os investimentos ferroviários, Junius entrou no negócio de financiamento de países em Londres, surfando os dois melhores negócios da segunda metade do século 19.
A visão conservadora de Junius, que parece reverberar Peabody, fundamentou o método de negócio dos Morgans, que pode ser resumido nessas frases de Pierpont:
"Cheguei à conclusão de que nem minha empresa nem eu teremos qualquer relação, doravante, direta ou indiretamente, com a negociação de títulos de qualquer empreendimento não totalmente concluído; e cujo status, por experiência, não lhe provaria ter direito a um crédito inatacável em todos os aspectos." Em outra ocasião, ele disse: "O tipo de Títulos aos quais desejo estar conectado são aqueles que podem ser recomendados sem sombra de dúvida e sem a menor ansiedade subsequente quanto ao pagamento de juros à medida que vencem."
O grande negócio de Junius Morgan foi a compra da NY Central de Vanderbilt (sobre quem já escrevi 3 textos aqui no blog), que Chernow equivocadamente atribui a Pierpont por não explorar fontes britânicas, porque o dinheiro que comprou a maior parte das Ações foi londrino, levantado por Junius sem muitas explicações.
Considerando que a década de 80 daquele século foi de quebras de muitas ferrovias, depois do boom das décadas anteriores, conseguir negociar a maior parte das Ações da maior ferrovia pegando mercado e imprensa de surpresa foi impressionante, o que só pode ser explicado pela confiança que os investidores tinham em Junius Morgan.
Infelizmente, Pierpont queimou as cartas que eles trocaram entre si, o que jogaria luz sobre aquele período gerou, já que Carnegie e Rockefeller admiravam Junius, mas a forma como o filho o honrou e o copiou só reforçam quão grande ele foi.
John Pierpont Morgan (1837-1913)
Depois do negócio da NY Central, os Morgan começaram a ser protagonistas do setor ferroviário e Pierpont ascendeu como líder do negócio, enquanto Junius começava uma semi-aposentadoria que durou até sua morte.
Quando Junius sofreu o fatídico acidente, Pierpont já tinha 49 anos, era um banqueiro forjado pelo pai, mas já atuava em NY a décadas e tinha o apoio e o fundamento do pai para liderar, o que o fez com maestria nas 3 décadas seguintes. O traço mais marcante do banco continuou sendo a fortaleza nas grandes crises que vinham todas as décadas, e a forma como lidavam com isso, como fica claro aqui:
“O poder de Pierpont Morgan floresceu durante a forte recessão industrial iniciada em 1893. Mais de 15 mil empresas comerciais faliram em uma recessão que levou à luta de classes e conflitos quase revolucionários em muitas partes dos EUA. A sangrenta derrota dos metalúrgicos na greve de Homestead em 1892 deu lugar à repressão implacável do governo à greve de Pullman em 1894. Mais de seiscentos bancos faliram durante esse período, e o dinheiro tornou-se tão escasso devido à acumulação de reservas que os corretores o negociavam nas ruas de Wall Street. Toda empresa que faliu e foi reorganizada por um banco acabou se tornando cliente cativo do banco. Em 1892, a General Eletric foi formada por meio da consolidação da Edison General Eletric Company e da Thomson Houston Eletric. Quando a nova empresa faliu no ano seguinte, Pierpont a resgatou e, assim, garantiu a lealdade futura da GE à Casa Morgan”.
Isso sôa como um banco de investimentos atual? É isso mesmo, Pierpont forjou o conceito, até no dia a dia, o trecho abaixo lembra o livro sobre o BTG Pactual:
"Todo o escritório ficava em uma única sala no térreo, onde havia dezenas de mesas onde os funcionários trabalhavam... Não havia necessidade de anunciar formalmente as visitas, nem esperas, nem antessalas. Qualquer um que visse que um diretor estava afastado podia ir direto até sua mesa. As relações entre chefes e funcionários eram muito informais e livres, sem que isso significasse falta de respeito".
Mas os feitos de Pierpont Morgan e a construção do J.P. Morgan & Co. que terminou sob o comando de seu filho, Jack Morgan, não cabem nesse texto, pega da década de 90 do século XIX ao período pós Primeira Guerra Mundial e envolve uma explicação de como o viés esquerdista do biógrafo atrapalham a compreensão do que realmente aconteceu naquela época, então fica para o próximo texto.